Contas Inglesas

Mais uma notícia com origem no FMI esta manhã. Desta vez o despedimento em massa de 50.000  professores e em extenso para os que não aprenderam números — cinquenta mil — embora para os que não aprenderam a ler se torne ainda mais difícil divulgar esta notícia, se calhar precisamos de mais professores!

Discutirei o mérito contabilístico do FMI mais tarde mas uma pequena pesquisa mostra que Portugal tem presentemente um dos quocientes mais baixos na relação de alunos por professor. Enquanto países como a Alemanha e a Inglaterra têm números mais elevados de cerca de 16 alunos por professor, Portugal está em terceiro lugar depois da Grécia e da Lituânia com cerca de 9.

Números às vezes não dizem muito.  Em Inglaterra por exemplo o nível de educação é um dos mais baixos da Europa, embora o custo por aluno seja dos mais elevados, €7.847 por aluno por ano, a par com países como a Holanda, Alemanha e Suécia e abaixo do país que mais gasta, a Dinamarca com €9.114. No entanto o campeão da despesa é os Estados Unidos, com €11.370, o que é espectacular, pois é do conhecimento universal a lendária burrice e ignorância generalizada deste país. Estão literalmente a atirar pérolas a porcos e é sem dúvida o mais ineficiente do planeta em termos de educação. Talvez o FMI devesse ter uma palavrinha com eles... em inglês porque não conhecem outra língua.


Não será por atirar mais professores para baixar o quociente que fará com que os Ingleses fiquem mais cultos. Na Alemanha já não se passa o mesmo, embora com um quociente equivalente e um orçamento menor por aluno, estes obtêm melhores resultados. A Alemanha sempre foi assim, faz parte da cultura nacional. Portugal, Grécia e Lituânia estão no terço mais baixo da tabela, o que só prova que embora tenham muitos professores, estes ganham pouco e trabalham muito... a Educação nestes países é eficiente. Qualquer aluno português ou grego (não sei se lituano) dará "um baile" a um inglês ao sair do secundário em Matemática, Literatura, Geografia, Política, Línguas Estrangeiras, História... a lista não tem fim! 

O número de professores em Portugal aumentou drasticamente desde os anos 60... de 36,699 em 1961 para 174,953 porque era uma necessidade. Uma necessidade que resultou, que funciona. É impressionante  ver que tudo isto possa desaparecer porque o Governo Português dá ouvidos a uma instituição totalmente enviesada e cheia de preconceitos, culturalmente Anglo—Saxónica (os burros mundiais), que só pretende aplicar modelos baseados em sistemas financeiros instalados pelos Anglo—Saxónicos (os burros mundiais, é o eco, desculpem) para cobrir buracos orçamentais e dívidas que ultimamente foram gerados e impostos pelos Anglo—Saxónicos (mais eco?).

Quanto aos cortes financeiros na despesa... é mais uma ilusão. Despedir 50.000 professores não vai poupar nada na despesa. Se o salário bruto é em média de €25.000 (notar-se que pelo menos €10.000 retornarão para o Estado em impostos e despesas colaterais incluindo transportes e IVAs num total de €500.000.000) temos uma massa total de €1.125.000.000 que é paga actualmente. Se forem despedidos, irão para o desemprego durante dois anos a 80% (€1.000.000.000) ou seja, o Estado poupa somente €125.000.000 mas não recebe impostos ou colaterais de €500.000.000. Nos próximos dois anos o Estado perderá €750.000.000! Se o subsídio de desemprego reduzir ou for zero, a perda nos colaterais mantém-se. Ter estes profissionais  de molho em casa só cobrirá as perdas iniciais depois de 2022. Mas nessa altura o Governo será outro sem a menor dúvida.

O FMI e o Governo deveriam urgentemente voltar para a escola... em Portugal.


Comentários

  1. O “bullying” que faltou.


    Estou a ouvir o “From Gagarin’s point of view (uma vez mais, OBRIGADO Paulo), e, de algum modo, anestesia-me a raiva que vai dentro de mim. Isso agora pouco interessa.

    Recordo o meu tempo de escola primária. Houve sempre jovens que - vá-se lá saber porquê - serviam de bombo da festa dos restantes. Ou lhes roubavam os berlindes, ou lhes rachavam o pião logo à primeira, seguidas de umas galhetas para não serem “nabos”.
    Queixavam-se à professora - os “copos de leite”, como eram apelidados - e, levavam depois mais umas chapadas para aprenderem a estarem calados e não serem queixinhas.

    Enfim, faziam tudo para serem amados pelos congéneres. Os outros é que não os compreendiam.

    Para a versão mais moderna das iniciativas escolares deste tipo, inventou-se o termo “bullying”. Não que concorde com essas acções. Contudo, confesso, têm algumas vantagens “darwinescas”. Os fracos que fazem pela vida e resistem tornam-se mais fortes, caso contrário, pode ser trágico.

    Esta introdução leva-nos aos “bons alunos”, personificados hoje em pessoas constituintes do actual elenco governativo. Gaspar, Moedas, Borges, Coelho, (a ordem não é arbitrária) e outros ainda do mesmo vulto mas, com cargos mais subalternos.

    A maior parte deles nunca passou (a sério) pela gestão de uma simples empresa. Para quê?
    Ao sabor do EXCEL e do POWERPOINT navegam hoje os destinos de todos nós para o inexorável abismo da pobreza sem dignidade, estes “bons alunos”.

    Umas boas sovas dadas no momento certo teriam sido suficientes para o destino do nosso país ser bem diferente.

    Abração.

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