... a espera...

O País está à espera hoje não sei bem de quê. À espera que o líder do partido à direita do partido de direita que governa Portugal, diga alguma coisa, se pronuncie sobre medidas ineptas, ignorantes, desesperadas, anunciadas há dois dias pelo Ministro das Finanças.

À espera outra vez, e o desespero intelectual é tanto, e vai tão longo e habitual, que vamos transferindo para um indivíduo de discutíveis qualidades, poderes e desejos num quase paralelo ao retorno sebastianico de Alcácer Quibir. Portugal faz Alcácer Quibir melhor do que ninguém, num sentimento único e totalmente incompreendido pela conjuntura mundial. Mas haja pachorra... já lá vão 440 anos!!!


Falemos então deste almejado sebastiãozinho de pacotilha... o que é que ele pode dizer? Analisemos... e comecemos pelo nome: Paulo de Sacadura Cabral Portas... não nos deixemos iludir pela abreviatura populista de Paulo Portas. Sacadura Cabral é um nome histórico mas é também um nome de privilégio, urbano-lisboeta, bemzoca, burguês senão aristocrático, não fosse o facto da aristocracia nacional ser de uma pobreza intelectual e de uma incompetência que é melhor ficar ocultada numa conveniente clandestinidade. A família é de Vila Viçosa, sim a vila do Paço Real, do latifúndio, da cultura de serventia e patronato. Paulo (de Sacadura Cabral) Portas depois de estudar na privilegiada Universidade Católica (não pela descrição religiosa mas pelos custos e "fina-flor" dos seus estudantes), escreveu para o Tempo, semanário da proteção e validação demagógica da ultra-direita saudosista, e para o Independente, onde foi sempre a eminência parda de um intelectual de raíz, Miguel Esteves Cardoso. Este último nunca teve grandes ambições políticas, à parte um período fantasioso onde lutou pela hipotética ressurreição da Monarquia. Paulo (de Sacadura Cabral) Portas esteve sempre a seu lado nesta aventura e mais tarde num oportunismo que lhe é tão peculiar, ao se aperceber do vazio político e diretivo do Centro Democrático Social / Partido Popular, teve o seu momento a caminho de Damasco (não o moderno, mas o de há 2000 anos) e converteu-se. Deveria a meu ver ter mudado o seu nome para Saulo (de Sacadura Cabral) Portas.
Esta estéril mini-biografia poderia continuar com mais jóias de submarinos, fortes, espionagem e chantagem institucional, viaturas de luxo... mas como diria o dentífrico anúncio "Palavras para quê? É um artista português!"

E é desta pessoa que estamos à espera. Estamos é um pouco exagerado, estão alguns, estão aqueles que querem saber se podem marcar férias nas Maldivas enquanto o indicador direito acaricia o écran do seu iPhone5 que lhes custou dois ordenados mínimos na Fnac, se podem fazer um upgrade de Executive para First, se podem trocar de BMW antes das próximas férias de Verão ou têm de continuar durante mais um ano a usar uma viatura que hórrórósamente está a cair aos pedaços. A maioria não está à espera de nada, atraiçoada, sem futuro nem presente, já lá vão 440 anos!

Uma coisa posso desde já adiantar... o Paulo (de Sacadura Cabral) Portas não vai aparecer à porta do seu humilde apartamento e antes de entrar no seu Fiat Panda com 100.000Km dizer:
— Desculpem o atraso mas comprei um guarda-roupa no IKEA ontem e tive uma dificuldade enorme em pôr tudo certo. Alguém me quer ajudar com o manual de instruções?

Não, isto não irá acontecer. O Paulo (de Sacadura Cabral) Portas nem sequer sabe o preço de um litro de leite, ou de uma (recusada) refeição de escola em Loulé.


Comentários

  1. O Outubro amarelo

    Permitam-me passar em frente a questão da heráldica de PêPê (aka Paulo Portas) e os fenómenos históricos associados, assuntos de somenos importância dado o contexto do restante.
    Sou do tempo em que as pessoas recorriam às tinturarias para mudar as cores da roupa.
    Tive a felicidade de nunca o ter feito. Como a impaciência da Moda nunca mexeu comigo, ou havia dinheiro, ou esperava. Outros não.
    Mais improvável que a descoberta do bósão de Higgs, revejo um momento épico de um encontro, entre PêPê e Zita Seabra, dois modelos irreprováveis de congruência e de anatomia vertebral: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=UQ0dML_br34
    O poder, que horrrrror. A vastidão dos oceanos, as suas distantes vagas, tudo tão vago.
    Mas, afinal, tudo tão coerentemente próximo de Pêpê.
    Do branqueamento da personalidade ao dentário, foi o culminar do percurso da fénix renascida. Impunha-se ainda a Pêpê a mudança do estilo do discurso “tio” para o de estadista que sabiamente soletra, aliás, logo absorvido por outros fiéis seguidores (ex.: o da lambreta, de nome Mota Soares).
    Com a telegenia assegurada, Pêpê hasteia a nova bandeira: soberania, compromissos, defesa nacional e postos de trabalho (este último, só como humor negro).
    Esquadrilhas de helicópteros, divisões de carros de combate, flotilhas de submergíveis foram como uma luva para o salto dos grandes negócios de estado (uupss, falei em “luva”?).
    A nossa necessidade de submarinos, e novos, apenas tem paralelo com a história da compra de limpa neves por Angola.
    Por aqui, infelizmente, é mais fácil descobrir um submarino atómico debaixo do gelo Antárctico do que a narrativa completa das “comichões” da Forrestal.

    Pêpê, força, aguenta-te no governo.
    O interesse nacional acima de tudo

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    1. Ora nem mais e bem descrito obrigado. Quanto à espera... acabou, continua agarradinho ao poder qual lapa à rocha (analogia marítima). O mexilhão... que se f...!

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