Baralhar de novo

Não, eu não voto! Dirão alguns porque não posso, porque estou “desterrado” e nunca tive pachorra para tomar parte na bela democracia portuguesa por controlo remoto. Votar para os deputados do “Círculo Europeu” tem um sabor mais... europeu? mas não soa nem cheira a Lisboa.

Não, eu não voto! Não posso fazer parte, ser cúmplice de uma farsa eleitoral onde a palavra Democracia está escondida sob estratos de duplicidade, inutilidade, enganosa publicidade, de conversas de Poder que não têm força nenhuma e só servem para auto-promoção mediática.

Não, eu não voto! Estas eleições têm sido “vendidas”, apregoadas em sites sociais, com milhares de seguidores confirmando que vão votar sim senhor (em quem, para quê, digo eu) e com entusiasmo cego estão simplesmente a dar legitimidade a qualquer que seja o resultado final, que no final só tem dois sabores, lima ou limão, amargos de boca...

Não, eu não voto! Votar neste Domingo é dizer que esta D(d)emocracia tem valor, que vale a pena correr o risco de nada mudar, de deixar as actuais camadas dirigentes continuarem a dirigir e autenticá-las pela pequena folha de A5 dobrada aos milhares, amedrontados pelo pregão “se não votares deixas os outros decidirem por ti”. E nós fomos sempre condicionados a não deixar nada para “os outros”. Não gostamos nada mesmo dos “outros” de ser paus-mandados pelos... "outros". Será por isso que sempre escolhemos (embora o verbo escolher seja enganoso) os mesmos “estes”?

Não, eu não voto! Porque não há nada para escolher, porque acredito que neste Domingo “os outros” não vão aparecer também. Sendo assim, a Democracia poderá recomeçar finalmente; não só teremos de baralhar de novo mas usar um baralho novo, sem cartas viciadas.

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