Casa das Limonadas

Lembram-se da Casa das Limonadas? Da original? Fiz um “google” recentemente com “Casa das Limonadas” e o resultado foi um restaurante na Rua dos Sapateiros o qual não serve limonadas como actividade principal mas está mais dedicado a almoços “trabalhadores”. O episódio que vou narrar passou-se na Casa das Limonadas na Rua Nova do Almada em frente à Casa Senna, logo abaixo da Socidel e do Tribunal da Boa–Hora. Este estabelecimento estava encafuado quase debaixo da plataforma de estacionamento do Tribunal, estreito, com balcão em madeira escura e uma ou duas mesas com tampo de mármore. Curiosa esta relação geo–semântica entre Limonadas e "clientes" do Limoeiro.

Podem avaliar a antiguidade da história pelos nomes descritos... Casa Senna, Socidel, os únicos retalhistas que vendiam equipamento desportivo nos anos 70 e que eu frequentava regularmente para ver as últimas modas e babar-me com a visão de ténis Adidas (a única marca desportiva existente, Sanjo não conta, era tudo tão simples).

Bom... estou eu a ir ou a vir da Baixa ou Rossio ou até da Socidel depois de comprar uns calções pretos em puro nylon que me ajudariam a remar melhor, principalmente devido à intensa acumulacão de carga eléctrica por fricção, quando a visão de uma limonada me parece extremamente refrescante. Entro e peço uma limonada, pois claro (nada de Coca Colas da treta ou 7UPs) e espero ao balcão que o empregado vá zelosamente pelo processo de espremer os limões e juntar água, açúcar e gelo. E pronto, lá fico eu a beberricar e a refrescar-me.

Outro cliente chega...
– Uma limonada se faz favor.
– Sim senhor é p’ra já! – responde o empregado não sei se tão literalmente.

O cliente faz como eu... fica a olhar para o ritual de espremer limões. Quando o empregado põe o sumo no copo, junta o açúcar e o gelo, o cliente exclama, quase involutáriamente em desespero:
– Não! Não!!! o que é que está a fazer? Não é assim que se faz uma limonada!
– O quê? O que é que está a dizer? – responde o empregado embasbacado.
– Não, não junte o açúcar e o gelo ao mesmo tempo senão o açúcar não derrete.
– ??????
– Tem de pôr o açúcar e o limão primeiro, misturar com água e só no fim juntar o gelo!
– É assim que eu faço a limonada, quer ou não quer? – responde o empregado irritado, quase atirando a limonada para o balcão.
– !!! – o cliente faz uma interjeição de desconsolo, dá meia–volta e sai para a rua.
– Barda merda! – diz o empregado “em brasa” – aparece–me cada um! Eu que faço limonadas aqui há 30 anos sem qualquer problema a levar lições de tal filho da puta?

Ninguém responde. Silêncio meditativo em todos os presentes... a pensar talvez na dialéctica entre profissionalismo e inovação, entre intelecto e repetição quotidiana ou em como, neste caso, o cliente tem sempre razão!

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