A lógica da estupidez.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal vulgo Paulo Portas (ou será ex-ministro, ministro demissionário, sem pasta, sem espinha dorsal) foi chamado à Assembleia da República ontem para prestar esclarecimentos acerca da viagem do Presidente da Bolívia a semana passada. Os argumentos utilizados para se desculpar e exonerar são de uma infantilidade absurda. Por um lado parece saudável que a Assembleia ainda possa requerer a presença de um membro do Governo; por outro lado a maneira como se deixaram "embarretar" é quase enternecedora. Ver um (ex)ministro a mostrar um desenho género "se não percebem eu faço-lhes um!" parece ser suficiente prova de esforço e mérito e justificativo de que tudo está bem. Aos nossos deputados é q.b. mas o número de omissões e mentiras é quase absurdo.

O avião do Presidente da Bolívia, FAB001, é um Falcon Dassault 900 EX e tem uma autonomia de 8.340Km. A distância direta entre Moscovo e La Paz é de 12.494Km a que se podem adicionar mais uns tantos quantos se tiver que usar corredores enquanto sobrevoa o espaço aéreo europeu. O avião presidencial tem que parar algures para atestar o depósito. Com uma certa diplomacia (e falta dela pelo (ex)ministro português) foi feito um pedido de escala em Lisboa, de uma lógica imbatível pois fica a meio caminho e está à "beira-mar plantado" . Este pedido foi recusado! E ontem o (ex)ministro não só não explicou porquê, mas ninguém lhe exigiu qualquer explicação. O plano de vôo original não foi mostrado. O "desenho" faz parte da passagem do avião DEPOIS de ter andado às voltas pela Europa e ter passado a noite em Viena, indo a caminho das Canárias, depois do mundo inteiro ter sido alertado que os Estados Unidos tinham exigido aos seus bajuladores (incluindo Espanha, França e Itália), o impedimento ou revista da aeronave para a apreensão do espião Snowden.

Paulo Portas prestou um mau serviço a Portugal. Desdenhou a América Latina na sua totalidade, incluindo o Brasil, abriu precedentes em relação a futuras deslocações de figuras de Estado europeias, pôs Portugal, um país que nunca deveu nada a ninguém em termos diplomáticos desde a Ínclita Geração, respeitado e correto, numa situação em que se andam a queimar bandeiras nacionais na rua e embaixadores a serem chamados para esclarecimento, quais países sem estirpe tipo Síria ou Coreia do Norte. Esqueceu, ou é ignorante, ou estúpido, ou tudo isto junto, que Portugal anda nisto há séculos e demorou séculos a construir credibilidade diplomática. Fosse ele ministro do D. João I II ou III ou IV ou V e estaria agora de cabeça cortada ou em calabouços recônditos, votado ao esquecimento. Teria feito muito melhor serviço e certamente passado despercebido, se tivesse autorizado escala ao avião presidencial em Lisboa como foi pedido originalmente. Melhor ainda se o Snowden estivesse lá dentro. Recusar perguntar, ou saber se o Snowden ia no avião, deveria ter sido feito não ao Governo boliviano mas sim ao Governo americano. Isso sim teria sido verdadeira diplomacia. Deveria sair (ou já saiu, ou tornou a entrar, sabe-se lá como tal cabecinha funciona) ou ser despedido antes que no próximo mês recuse escala e abastecimento ao Air Force One!

Numa nota mais séria vejam esta notícia no New York Times... Aristides de Sousa Mendes. Um diplomata, melhor um Diplomata.
Ah já me esquecia... quando o Presidente da Bolívia foi a Moscovo em visita, diretamente de La Paz na semana passada, onde é que o avião fez escala? Lisboa? 

Comentários

  1. Le cirque do MNE e les Jívaros.

    Paulo Portas, sempre ele, campeão inquestionável das maiores e mais vistosas piruetas, veio dar uma “explicação” oficial para o caso do último voo Moscovo/La Paz do Presidente Morales, ver link do “Governo” de Portugal em http://www.portugal.gov.pt/pt/os-ministerios/ministerio-dos-negocios-estrangeiros/mantenha-se-atualizado/20130703-mne-bolivia.aspx

    Dessa pérola do esclarecimento acrobático do nosso MNE Portas, cito os 1.º, 3.º, 4.º e 10.º parágrafos:

    “1. Foi concedida autorização de sobrevoo e aterragem ao avião presidencial da Bolívia no dia 28 de junho, às 19h03, para o percurso La Paz-Moscovo e regresso;



    3. No dia 1 de julho, 2.ª feira, às 16h28, foi comunicado às autoridades da Bolívia que a autorização de sobrevoo e aterragem, solicitada para o percurso de regresso Moscovo/La Paz, estava cancelada por considerações técnicas.

    4. Perante o pedido de esclarecimento das autoridades bolivianas, recebido às 19h19 desse dia, foi esclarecido às 21h10 que as considerações de ordem técnica não obstavam ao sobrevoo do espaço aéreo nacional, tendo para tal sido expressamente concedida nova autorização de sobrevoo. Apenas a aterragem não seria possível por considerações técnicas.
    ….

    10. Portugal lamenta qualquer incómodo junto das autoridades bolivianas, mas considera-se totalmente alheio a esse incómodo, visto que foram as autoridades bolivianas que durante quase 24 horas não aceitaram estudar um percurso alternativo e insistiram num procedimento que teria violado a soberania portuguesa.”.

    Paulo Portas, lamentavelmente, acha que as restantes pessoas são todas atrasadas mentais, de crânio reduzido. Só assim se entende, de forma racional, o conteúdo do documento/”esclarecimento” por ele emanado.

    Em 28.Junho o avião de Morales podia passar/aterrar/reabastecer em Lisboa, independentemente do percurso (La Paz/Moscovo e Moscovo/La Paz).

    No dia 1.Julho, já não, sendo que, mais tarde nesse dia, depois de um valente aperto (!) dos Bolivianos, Portas acabou por permitir somente a utilização do nosso espaço aéreo e isto devido às alegadas “considerações técnicas”.

    Note-se a precisão (ao minuto) descrita para as horas a que os pedidos e informações foram prestados mas, depois….

    Somente uma questão: Sr. Dr. Paulo Portas.
    Quais foram essas “considerações técnicas”?

    Espero sinceramente que, um dia, Paulo Portas não tenha que aterrar em plena selva, rodeado de Índios Jívaros ávidos de praticarem o ritual Tsanta. Adivinha-se depois o comunicado do chefe da tribo:

    Somos totalmente alheios à vontade do Sr. Paulo Portas, o qual, ainda por cima, violou a nossa soberania!

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    1. Obrigado João pelo esclarecimento temporal. Penso que corrobora na perfeição o tema deste texto.

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